sábado, 24 de dezembro de 2011

Balanço de Natal


Independente da sua crença ou fé, ou ainda do seu pensar, o Natal te convida a fazer um balanço emocional. O período te faz correr e parar, conviver e se isolar. O Natal é com você mesmo e também com todo mundo que importa. O dia tem um silêncio esquisito, prolongado por uma sensação de urgência. O Natal do dinheiro fica meio que para trás, como se finalmente alguma coisa fizesse sentido. Boa ou ruim, mas certamente verdadeira. Será que o ritmo do mundo determina o Natal ou é o contrário? Que importa? Importa ver, importa ser melhor e realmente importa aceitar. Importa também amar. Feliz Natal!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Perguntas de fim de ano

É isso? Então, na verdade, é só isso? Mas o que mais poderia ser? Há Deus? E o outro, há? Será que eu consigo? Exagerei? Será que ela estava mesmo certa? E se? Para onde, então? Não fiz? Não sei fazer? Será que foi melhor assim? Para quando? Até quando? Quanto? Acertei? Será?

domingo, 18 de dezembro de 2011

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Motivos do divórcio

Quando Juliana despertou certa manhã de sonhos intranquilos viu que ao seu lado seu marido havia se metamosfoseado em Gregor Samsa!


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aos 37

Já fiz muito esforço nessa vida. Cansei de ter que ser bonita, cansei de ter que ser inteligente e cansei, sobretudo, de ficar doente. Daqui pra frente quero amor gratuito. Somente.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Planetas



Numa sexta feira letiva de 1996...

Numa sala úmida e fria de faculdade pública, a aula de citologia foi invadida por um preciso morcego. Após certa comoção inicial e inúmeras negociações sobre a estratégia de aproximação (e para alívio geral do corpo discente), o selvagem animal foi capturado e devidamente devolvido ao seu habitat natural, a floresta ao redor.

  

Numa sexta feira letiva de 2011...

Numa sala úmida e quente de faculdade pública, a apresentação de seminários sobre comunicação foi perturbada por uma tonta mariposa. Após certo pânico inicial e inúmeras interrupções no simpósio discente, e para que se evitassem maiores atrasos na programação, o selvagem animal foi devidamente assassinado por uma das organizadoras do evento, que nunca nem olhou para a floresta ao redor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lá fora



Pouca luz, vinho, menta
como um rugido lá fora,
cada cidade rolava lenta...


Cansados de mundo, pesados da hora.


Experimenta! Mudo,
sem sol, sem ar,
agora.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011

Pântano



de nada lhe adiantava
saber como havia chegado
até ali


estava ali
estava.



(Pausa longa)


Delicadamente...

começou a puxar

com os dedos...

cada uma

das gordas...

sanguessugas

que beijavam                       sua pele.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O URUBURUS


Achei aquilo uma coisa sinistra, escura, de mau agouro.


Não era. Com o tempo, fui interessando. O casal foi visto primeiro rondando nosso céu, em espiral, planando. Discutimos sobre gata, se tinha algum perigo, e coisa e tal. Mas foi só isso. Na rua dos aviões, acharam uma terrinha e fizeram um ninho. Estacionaram.

Ele sumiu logo, como bom macho que era. A mãe ficou com dois ovos rajados, sozinha. Um pouco maiores do que os de galinha. Agora já nasceram. Há um vidro embaçado e uma grade forte entre nossa casa e a deles. Somos vizinhos, nos respeitamos. Ela é a mãe e é imensa.

Ela chocou por trinta e poucos dias, no vento e na chuva de inverno, no sol e no décimo terceiro andar, sozinha. Ela é a mãe, quase nunca sai. Abre o bico preto quando a gente chega perto. Tenho medo dela.

Outro dia ela saiu, deu pra ver melhor. Achei que seriam feios, os bichinhos. Não são. São amarelinhos, abrem as asas e batem os bicos, bem juntinhos. Descobri que não tem muita hierarquia, tudo tudo é só cria. Mas ela cuida.

A vida se alimenta da morte, assim como a morte se alimenta da vida.

Tenho medo dela, ela é a mãe.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O plágio

Vou tentar aqui fazer jus ao tal do ethos da minha profissão, ok? Didático até onde minha mente ressentida e embaçada ainda for capaz de obedecer. Vou tentar, deixe-me ver... vamos começar pensando na figura contínua do círculo. Isso mesmo, pense agora em um lindo círculo, simples e infinito. O texto em questão começou e terminou comigo, percebe? Um professor criterioso como eu não esquece o que escreveu. O texto foi, rodou e voltou para minha mão, sem aviso, como se fosse trabalho de aluna. O corpo do texto, veja você, antes de chegar naquelas mãos de esmalte roxo do corpo discente já havia passeado pela ala feminina corpo docente. Foi a verdadeira volta do truque duplo: improvável e supreendentemente redonda. Como eu descobri? Vou contar tudo, veja só se não existe destino!

Em plena UNYALE, numa tarde de terça-feira, a aluna de dependência dona Klyciane Vanessa dos Anjos, que pretendia sem suor aniquilar a última das suas depês do histórico escolar para poder cursar os estágios obrigatórios do semestre seguinte, me entregou um trabalho que eu mesmo havia escrito. O texto tinha alguns anos de idade e era um resumão superficial que eu, novo na profissão, quase virgem por assim dizer, havia montado como gabarito de um exercício de aula. Há tempos eu já havia desconsiderado esse tipo de material de apoio da minha prática diária porque era uma copiação danada. Era, portanto, um texto em desuso, do passado.

Veja bem, a princípio a cara de pau da aluna entregou o pseudotrabalho com a tranquilidade de quem se achava realizando o crime perfeito. Não sei nem se ela havia lido o texto por inteiro. Na verdade, até duvido. Admito até que a Dona Klyciane foi mais inovadora na sua tentativa de engambelação do que sua primeira avaliação poderia ter sugerido. Lembro-me da prova quase em branco, meio amassada, duas palavras estavam escritas no lugar da resposta dois, primeiro a lápis e, por cima, sem apagar, à caneta: manter eqilibrio. Assim mesmo, em minúscula, faltando o u. Havia tirado um nessa primeira prova (acertou um teste, a sortuda) e havia se ausentado no dia da segunda avaliação. Setenta assustadas criaturas esforçavam-se com as unhas e os dentes dignos dos iniciantes para compreender a diferença entre um átomo e uma molécula quando a infeliz, às 21h46 de uma mais infeliz ainda sexta-feira, interrompeu minha aula aos prantos. Veio com uma dessas estórias tristes – morte da avó, incêndio no prédio, irmão na cadeia, sequestro dos pais, não sei mais qual. A maquiagem cintilante vinha borrada. Eu resolvi dar uma chance, sugeri que fizesse o tal trabalho. Antes dela sumir da minha vista eu já havia me arrependido. E agora essa.

No solitário espaço reservado para as referências bibliográficas a aventureira carimbou um endereço da internet: o portal da maior universidade do país, aquela uma que fica... O senhor, lê Hawking? Esquece... bem, fica a umas quatro dimensões pra esquerda. Confesso que fiquei inclusive um pouco lisonjeado com o detalhe da pretensiosa referência inventada, mas mantive firme minha cara de docente. Olhei bem para a cara dela e perguntei:

- Dona Klicya, minha cara...

- Klyciane, profi, é meu nome.

- Dona Klyciane, minha cara, você tem certeza que essa bibliografia que está aqui escrita no seu trabalho está correta?

Devo acrescentar que essa era uma depê que havia sido criada para salvar quatro almas penadas da minha incrível, essencial, importantíssima disciplina! Na prática era uma aula que ficava descaradamente deitada em cima tardes das minhas ex-preciosas terças-feiras na qual agora nada... eu disse, na-da... acontecia. No passado (ah... o passado), eu às vezes até jogava um tênis às terças-feiras, mas... a gente ganha por hora, e depois das crianças... o senhor sabe...

- Tenho sim, profi. Juro.

- Dona Klicya (subi o tom) talvez a senhora não esteja compreendendo a situação. Como direi, bem, eu... eu... reconheço esse texto. (Pensei nos tempos do carteado, fiz um suspense e truquei.) Eu sei.

Dona Klyciane baixou a cabeça pensativa, mãos femininas com esmalte muito cintilante e muito roxo afundaram-se entre os joelhos. Fugi resoluto do decote.

Um aluno havia faltado nesse dia... Os outros dois fingiam que tentavam responder uma imbecil questão do tipo caso clínico que eu havia me descabelado para montar para não ter que passar mais de três horas falando com a parede. Duas moscas dormiam no canto da canaleta de giz. O sol escorria para dentro da janela e confinava todo calor do continente naquela sala. Ninguém no corredor. Dona Klyciane... nada. Apenas as mãos nos joelhos. Baixei o tom por cansaço.

- Aluna, a senhora não acha melhor a gente não levar esse tipo de coisa para a coordenação de curso? Veja bem, não há mais como salvar a sua nota, isso já passou, já era – como se diz hoje em dia. A senhora pegou um texto pronto e me entregou, não foi? O esperado era que a senhora mostrasse seu aprendizado, escrevesse, entende? Você não fez o que eu pedi e, portanto ficará com nota zero. Essa é a parte simples e fácil do problema, entendeu? Resolvido isso, podemos agora focar o cerne do assunto, o mais central, aquele que mais me intriga. O importante aqui é que a senhora cometeu um plágio. A senhora sabe o que é isso, não é mesmo?

- Não, senhor. Mas eu não quis fazer isso não, eu tô certa que não. Eu queria tirar nota boa. Eu usei o material que eu achei.

- Tudo bem, Dona Klyciane, eu acredito na senhora. Mas agora me conte de onde você tirou esse material.

- Por Jesus, profi, o senhor não fique bravo...

Emiti um rugido entre os dentes:

- Responda, criatura!

- Foi da apostila, professor. Eu copiei o texto da apostila que a professora deu.

- Uma professora? Que professora?

A meliante mantinha os olhos no chão e emitia irritantes solucinhos.

- Dona Klyciane, olhe para mim. Essa apostila... qual foi a professora que te deu isso aqui?

- O que o senhor vai fazer?

O tom era de uma inferioridade petulante, de quem não faz ideia do que se passa nem na sua própria bolsa Dior falsificada. Torcer seu pescoço - pensei. Senti o sangue aquecer minhas orelhas. Cocei os olhos e respirei o mais fundo possível por baixo dos óculos. Lembrei da terapeuta e tentei visualizar uma cachoeira que me salvasse das lágrimas da pequena anta universitária. Não adiantou, a paciência havia derretido com o calor. Quando nossos olhos se encontraram de novo, algo nela estremeceu. Eu confesso que gostei.

- Quem foi essa professora, cara aluna, que usou esse material didático tão excelente que a senhora guardou e depois se lembrou de copiar na hora de fazer o trabalho de dependência que eu, com a minha generosidade de idiota, sugeri que a senhora fizesse?

Sem olhar para trás, percebi que os dois alunos e a duas moscas haviam acordado ao mesmo tempo. Ela desandou a chorar compulsivamente, saiu cambaleando em saltos tortos de sola vermelha e não voltou nunca mais para minha aula. Descobri dois meses depois que havia conseguido transferência para fazer a dependência numa turma regular e, com uma ajudinha básica do outro professor, havia aprovado na disciplina.


No início do semestre seguinte, ainda naqueles dias descontraídos que antecedem a primeira avaliação, eu esbarrei com a aluna dona Klyciane Vanessa. Ela conversava com uma amiga quase bonitinha na fila da lanchonete e sorriu com a tranquilidade espantadora de quem, não só renovou a chapinha, mas também (e principalmente!) está livre de mim e da minha disciplina. Aproveitei. Perguntei como estava, elogiei o cabelo e o fato de ela ter sido aprovada e, com meu melhor olhar de sedutor de padaria, implorei:

- Dona Klyciane, por Jesus (jogo sujo, eu sei, mas foi assim) quem te deu aquela apostila? A senhora lembra, não é?

- Ah, lembro sim professor. O senhor me deixou tão nervosa! Por Jesus, profi. Eu não quis fazer coisa errada. Quem deu a apostila na aula pra gente foi a professora Jaqueline Benzete, ou Benizede, sei lá! Ô professor, não briga com ela não. Foi ela que deu essa matéria no outro ano que passou. Ela dava uns materiais assim bons, para a gente estudar mesmo, para a gente ler... eu é que não passei porque tava com uns problema aí. Não é fácil de essa coisa toda entrar na nossa cabeça, sabe? Tão complexo, uns nomes que... só por Jesus, profi... a gente num entende muito, sabe?

- E ela falou que foi ela quem escreveu? Para ajudar vocês?

- É. O que é que tem, profi? Que é que deu no senhor que não esquece mais disso de jeito nenhum?

A professora Jaqueline Benzedete era prata da casa, havia sido minha aluna, inclusive. Dez anos mais nova que eu e saída diretamente do programa Professores do amanhã. Na última reunião de departamento havia sido apresentada como a nova coordenadora de curso e, portanto, minha mais nova chefe. Pensei no preço da escola das crianças, nas prestações do carro, no plano de saúde...

- Por nada, aluna. É só que eu achei o texto bacana, sabe? Bem resumido...

domingo, 10 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

VVVVVVVVVVU.....

(Hoje)

Cuidado
Com o vento
EnCanado


(Amanhã)

EnCanado
Com o vento,
Cuidado

sábado, 12 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Fill in the blanks

Sobre Clarice Lispector o professor e crítico Benedito Nunes, falecido em fevereiro último, teria dito em entrevista concedida ao Estado de São Paulo: "Ela dizia que tinha medo até do Mickey Mouse. Uma angústia com certo humor." Vê-se que tanto o humor como o medo de Clarice permanecem atuais.




(O desenho é do grafiteiro londrino Banksy e foi feito em Hollywood alguns dias antes da última  cerimônia do Oscar (zzzzzzzzzz))

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Faroeste

O ato de fumar sozinho ainda não conhece equivalência no mundo do politicamente correto. O detalhe do sozinho torna o ato - no sentido freudiano mesmo – meio indecente, cheira crime e cheira bem, não atinge nada nem ninguém, mas parece tão bom que deve ser errado. A porta desse submundo aromático te convida para um livro antigo, você escolhe uma música com voz de mulher, rouba do seu próprio bar um dedinho de conhaque e se entrega às baforadas, como se o resto fosse detalhe. A ausência do mundo, a certeza do amor (ausente, mas sempre presente), o cheiro da casa e a saudade preguiçosa, deitada no pé que nem cachorro. Você sonha com as velhas botas, a bituca caída na areia do deserto, todos os sentidos acusando poeira e calor enquanto aquela velha dor conhecida e planejada espalha-se pelo corpo judiado de estrada. Entre olhares severos, o cheiro de mundo antigo - sem concreto, sem asfalto, sem portões automáticos – volta como novo. Você pode quase escutar o zunido horrendo das moscas que sobrevoam aquele cachorro surrado deitado na porta daquele único bar daquela cidade esquecida. Você ouve os motores ao longe, conhece cada um, esquece cada um. Você tem sede. O ventilador range no teto sobre o bar de madeira de lá e, mais perto ainda, sobre o seu conhecido sofá. O gato pula no colo, te assusta, você ri e vai buscar uma coca na geladeira.

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011. Mantra para chuveiro.

Todo mundo que muito pensa sonha em somente
existir.
Todo mundo que muito pensa sonha em somente
existir.
Todo mundo que muito pensa sonha em somente
existir.
Exista.
Mundo.