sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O URUBURUS


Achei aquilo uma coisa sinistra, escura, de mau agouro.


Não era. Com o tempo, fui interessando. O casal foi visto primeiro rondando nosso céu, em espiral, planando. Discutimos sobre gata, se tinha algum perigo, e coisa e tal. Mas foi só isso. Na rua dos aviões, acharam uma terrinha e fizeram um ninho. Estacionaram.

Ele sumiu logo, como bom macho que era. A mãe ficou com dois ovos rajados, sozinha. Um pouco maiores do que os de galinha. Agora já nasceram. Há um vidro embaçado e uma grade forte entre nossa casa e a deles. Somos vizinhos, nos respeitamos. Ela é a mãe e é imensa.

Ela chocou por trinta e poucos dias, no vento e na chuva de inverno, no sol e no décimo terceiro andar, sozinha. Ela é a mãe, quase nunca sai. Abre o bico preto quando a gente chega perto. Tenho medo dela.

Outro dia ela saiu, deu pra ver melhor. Achei que seriam feios, os bichinhos. Não são. São amarelinhos, abrem as asas e batem os bicos, bem juntinhos. Descobri que não tem muita hierarquia, tudo tudo é só cria. Mas ela cuida.

A vida se alimenta da morte, assim como a morte se alimenta da vida.

Tenho medo dela, ela é a mãe.