sábado, 18 de setembro de 2010

Sankay Juku


Havia ido lá justamente para isso. Queria dar mais uma espiada, perceber melhor. Sentia-se consciente de suas limitações desde que a sua ignorância, sua pessoal e intransferível ignorância, havia caído em seu colo naquela noite de 2007, naquele mesmo teatro. Essa mesma ignorância havia sido aceita como um presente e dela até havia sido tirada alguma paz. Mas os anos foram difíceis, a lama até o pescoço e a borboleta enjaulada na cabeça girava sem parar. De que maneira aqueles japoneses haviam feito isso ela não sabia. Movimentos mínimos e talco não explicariam nem de longe o choque ou o choro. Uma porta interna, anterior e eterna havia sido aberta por um instante e a borboleta ainda conservava nas asas incrustado seu aroma. A alegria de entender e a frustração de esquecer conviviam lado a lado. Ela sabia que seria só mais um instante e assim inevitavelmente foi. Ela percebeu num segundo suspenso que aquele velho japonês estava mais vivo do que ela jamais algum dia poderia chegar a estar. Vivo, que até ontem era uma palavra sem meios-termos, vivo demais! Conectado com que o que está embaixo e com o que está atrás, ele fazia parte do eterno, do Big Bang, do sempre e estava ali, presenteando-a com um cartão postal. Ele sabia ser inteiramente, só isso. Ela trêmula, abraçada a sua ignorância como em um ursinho, retornou alterada para o mundo de concreto. Encarou a avenida como os cachorros de madame encaram seus sapatinhos coloridos. Estava por demais ocupada em perceber a própria respiração.

(imagem de Jacques Denarnaud)

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