Da série, pequenos prazeres...
A vida judia, a gente acostuma, aprende a gostar. Na adolescência era um sufoco obrigatório mas, pensando bem aqui de longe, tudo na adolescência foi um grande drama visceral e a vida social não poderia ser diferente. Com anos, desencantos e a prática, a brincadeira foi ficando cada vez mais interessante, fonte de pesquisa, diversão de voyeur, até virar um hobby um tanto cruel. Ando sem treino, curtindo outra vida, mas acho que é como andar de bicicleta. A última festa na qual estive foi assim. Como era de costume, a posição estratégica e inofensiva de amiga de uma convidada facilitou o movimento. Logo após as apresentações obrigatórias, passei pela cozinha, já de olho na espetacular área externa, que só não é melhor do que uma boa biblioteca, e que naquele dia, era mais do que o necessário. Fetiches a parte, era noite de lua, daquela que mexe com a água interna como se fosse maré e faz a cabeça virar mar. Nas ondas do caminho, o olhar e a pergunta - oi, tudo bom? um drink? – Uns três segundos de olhar segurado só pra incomodar um pouco mais sempre garantiram o bom resultado. Sorri – desculpe, mas não bebo – e aguardei o abandono de cena, já previsto e apreciado. A maré levou. Roubei uma água com gás e deslizei incógnita por entre os convivas a degustar meu puro e calculado isolamento, ainda sentindo o gosto de travessura colado na língua. Olhar externo, ângulo interno. Melhor que TV.