A aluna bonitinha de caderno cor-de-rosa, aquela mesma que sentava na frente e anotava tudo com canetas multicolores e que o namorado bonitinho buscava pontualmente depois da aula, chegou naquele dia esbaforida e escalavrada. Aconteceu que havia sofrido um turbulento quase assalto no terminal do metrô. Uma baranga vigarista de unhas azuis e barriga de fora havia tentado roubar em meio ao mar de gente seu celular cor-de-rosa. Atracaram-se a bonitinha e a baranga na boca da escada que rolou vazia por quase um minuto inteiro entre as 18h31 e as 18h32 de uma quarta-feira pela primeira vez desde 1985, para deleite dos trabalhadores cansados e estudantes passivos que desembarcavam naquele momento único do terminal Barra Funda. O bate-boca inicial durou pouco, mas o suficiente para que elementos variados do público bem posicionado garantisse o up-load do dia seguinte daquele barraco para o mundo youtubiano. Em segundos estabeleceu-se um show de arranhões e decotes entre as duas cores distintas de cabelos alisados. O público estava dividido, alguns torciam para a bonitinha e outros para a baranga, de acordo com os processos misteriosos de identificação pessoal. Um grupo de adolescentes tentou puxar um grito de “beija! beija!”, mas não pegou. A bonitinha mostrou-se mais ágil do que o esperado e, mesmo de salto fino, conseguiu rapidamente derrubar a bolsa plastificada da baranga de onde foram cuspidos oito moderníssimos telefones celulares, dois iPODs e mais um aparelho eletrônico que a narradora tecnologicamente atrasada não seria capaz de nomear. Uma senhorinha minúscula gritava “o meu é o brubérri!”. Só nesse momento específico, após o vazamento de eletrônicos, foi que o segurança resolveu participar. Pensou em intervir antes, mas lembrando-se do último domingo de Páscoa na qual havia aprendido na prática a não se meter em briga de mulher, conteve-se. Algumas coisas são sagradas, principalmente quando aprendidas em dias sagrados. A bonitinha resgatou de imediato seu super aparelhodesomcalculadoragendamaquinafotograficaquemandamensagens cor-de-rosa (que às vezes também até faz ligação), consertou o decote e bravamente partiu para a faculdade com a saia meio torta. A baranga já havia desaparecido antes mesmo do decote da outra voltar ao lugar. Já na sala de aula, em meio ao apoio moral de colegas indignados, a bonitinha ainda ofegante resolveu avaliar o estrago material. Aconteceu que, para a surpresa de todos, na sua bolsa cor-de-rosa a bonitinha encontrou dois aparelhos idênticos de telefonia celular, ambos cor-de-rosa.
Amo
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