A senhora Millena Millor, a Mimi, acreditava piamente que a Vida lhe devia algo. Passava seus dias infeliz, reclamando o prazo de entrega, esbravejando contra o obeso Mundo que parecia ter sido plantado no meio do caminho para impedir o pagamento da citada dívida. Azeda, sentindo-se injustiçada, não cansava de cobrar a Vida, que escorregadia, insistia em não atendê-la.
Seu marido, o senhor Dr. Pedro Millor achava que podia domar a brava Vida. Passava seus dias na batalha, selecionando armas e instrumentos de dominação, preparando-se para os próximos confrontos. Atento, planejava cada passo com antecedência, programava-se, dava ordens. O que mais o irritava eram as Surpresas. Ah, as Surpresas... Sempre muito bem enfeitadas, de malas na mão, batendo na porta da frente nos momentos mais inconvenientes... Elas sempre o amaram apesar de ele tratá-las muito mal.
Joana, filha do casal, sempre recebeu a Vida como uma valiosa e inesperada batata quente sendo jogada em seu colo no de repente. Tratava-a como uma fina louça chinesa rodopiando em cima de uma haste cristal ou um livro de segredos milenares escritos em folhas de seda equilibrados em cima da cabeça quando se desce uma escada em caracol. Sem questionar, duvidar ou avaliar foi tentando levar a Vida cuidadosamente, delicadamente, um pouco mais para esquerda, um pouco mais alto, um pouquinho mais rápido, foi demais, cuidado... Mas a Vida bebeu, tomou tombo, queimou sua mão, pisou no seu pé, fugiu do eixo, do prumo, da vista... até que um dia, a Vida, do nada, queimou-a de verdade. Joana magoou sério, deixou a vida de lado por um tempo, escondeu-se dela e de todos.
Os pais de Joana ficaram arrasados. Mimi achou que era pessoal, um baita desaforo da Vida! O certo, depois dessa, é que a Vida lhe pagasse em dobro aquilo que devia, mas até onde se sabe, não sabia. O senhor Dr. Pedro achou que era culpa dele, que ele sim é que deveria ter protegido melhor a menina! Passou a levantar mais cedo e propôs para a filha um programa de treinamento para que ela evoluísse no domínio da Vida.
Joana não escutou. Sentia que o problema da Vida era com ela e não com seus pais. Depois de muito pensar, avaliar e questionar, numa fria manhã de neblina, antes do Mundo acordar, Joana abriu a porta da frente e gritou:
- Heeeei, dona Vida, eu sei que você está aí! Vidaaaaaaaaaaaa! Cadê você? Eu! Aqui! Pronta! Que diabos você guardou para mim? Vidaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
Os pais nunca mais viram a menina. Mimi toma comprimidos e não fala coisa com coisa. O senhor Dr. Pedro não sai mais do quarto, dizem que bebe. Se você tiver alguma notícia, por favor, entre em contato.
Das insônias de fim de ano
Há 8 anos
OI Jane, já falei que vc detalha mto bem, né?
ResponderExcluirSenti uma mudanca de velocidade no ultimo parágrafo, vc quis terminar o conto ali mesmo?
vou dar uma de chata agora..rs.
tenta reescrever e colocar mais suspense.
QUe bom que voltastes a escrever. Eu tb quero..comecei um outro curso de alemao e tenho me baguncado um pouco. Ah, e pra completar meu notebook está com o pé na cova. rs. Küss
É por isso, entre muitas outras coisas, que eu não vou a lugar nenhum. Amo.
ResponderExcluirStefanie, tks again. As versões que eu publico aqui tem que ser curtas pq se não as pessoas não lêem. A maioria são rascunhos, que eu pretendo retrabalhar... em algum momento talvez, novas versões de velhos textos possam aparecer. Mas é uma ótima dica, anyway. Vc viu que depois de muita luta contra a máquina, aprendi a colocar a minha lista de blogs na página? Tô melhorando...
ResponderExcluirAnônima linda, tô de olho...
ResponderExcluir