sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Delivery

A colisão ocorreu no único cruzamento da cidade, bem na frente delas duas, um carro e uma moto. Madrugada, duas rindo, lua baixa, um pouquinho de quase nada. Refrescava. Algumas horas antes alguém havia decidido por uma festa. No verão escorre gente mirante a baixo, mas esse tempo de agora era a temporada dos de sempre. Telefonemas e palmas na porta agitavam os convidados. A adição de líquidos e sólidos é colaboração obrigatória para com o anfitrião. O delivery, o único que funciona na cidade, havia sido acionado para substâncias específicas. Entretanto, um lance que envolvera uma rede e uma moça situados próximos ao mangue havia causado um atraso sem precedentes. A festa não atrasou. O álcool era bom e todos precisavam risadas e de férias de solidão. Pouco antes da garoa já o delivery era esquecido. Tardando minguou.

Saciadas de gente, caminhavam e riam tão sozinhas de dar dó. Fora as duas, noite morta de Bandeira até quase muito longe, só cigarras. O novo amigo oferecera carona e elas haviam apenas rido ainda mais. Descabido esse novo moço na praça. Ninguém. Breu. Garoava e elas rindo. Atravessaram o quadrado, a beirada do pé raspando o orvalho, rindo, às vezes chorando só um pouquinho. Caminho alongado e já já estavam na rua. Ali, no único cruzamento da cidade. Um carro e uma moto de delivery.

O atrasado amassou o capô com as escápulas e ainda caiu todo em pé, caiçara e encarando. O novo na praça mencionou o farol quebrado. Ao longe a festa miava. As risadas femininas chacolharam os motoristas e acordaram todos os dois cachorros que dormiam na redondeza. Nada! Ninguém! Só o acidente, um carro e uma moto, bem na frente delas! Delivery!

2 comentários:

  1. Jane, encontrei um blog inspirador. Uma amiga jornalista que escreve
    http://decimasegundadimensao.blogspot.com/2010/12/nao-fui.html?spref=fb

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