domingo, 23 de maio de 2010

Eclipse

De quando em quando, as órbitas dos destinos dos diferentes corpos grandes ou pequenos alinham-se como planetas e isso projeta em mim um eco da charada da esfinge. Capa de jornal – foi criada a primeira célula sintética. O aluno me pergunta – então estava tudo errado aquela idéia de que a vida só nasce da vida? Eu respondo que talvez a unidade da vida deva ser reconsiderada, cito os príons e o gene egoísta do Dawkins e deixo-o ainda mais confuso. Ele me diz que tudo bem, mas eu não respondi sua pergunta. Não respondo por que não sei, assumo diante da filosófica dúvida. Ele parece ficar satisfeito com o respeito que tenho pela mesma e me deixa sozinha no laboratório bagunçado, que cheira acetona. Nessa mesma semana eu havia terminado de ler o romance Frankeinstein (da Mary Shelley) e não consigo não associar as coisas e não achar que a ambição da ciência, que eu tanto amo, só mudou de escala. Poeira cósmica de menos é bobagem. Na manhã seguinte, antes das 6hs, ouço no rádio um bispo parabenizando os cientistas pela descoberta e acalmando os fiéis - criar uma célula sintética não se compara a criar a vida humana – diz a voz com sotaque. Sábado à noite – Blade Runner no DVD. Os medos do futuro parecem velhos para o mundo, mas sempre têm algo de novo para mim. A pergunta ecoa na minha cabeça em escalas múltiplas, enquanto os planetas vão se desalinhado e me deixando aqui, sozinha na minha órbita imprevisível.

2 comentários:

  1. Eu creio que o ser humano é capaz de absolutamente tudo. Assim como os caçadores de bruxas em 1400 não tinha idéia que a luz elétrica seria criada (ou seria descoberta?), nós também não fazemos idéia do que será um ser humano sintético: vida de plástico?
    Bj

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