domingo, 2 de maio de 2010

Limite

Durante uma semana ela esperou, fingiu que era forte, fingiu que estava tudo bem. Depois de anos prevendo esse fim, sentindo-o aproximar-se, afastando esse pensamento, depois de tanto tempo, alguns dias a mais pareciam quase nada. Trabalhou, sorriu, desviou repetidas vezes daquele assunto. Mas, como era de se esperar, mesmo a mais submissa, a mais paciente das mulheres, a mais correta, a mais mansa tem seu vulcão adormecido dentro de si e naquela manhã, algo rosnou dentro dela. Se ele precisava de um tempo, esse tempo já havia passado. Se ele queria compreensão, já havia recebido mais do que merecia, muito mais! Agora ela percebeu, ele havia sido compreendido demais, protegido demais, poupado demais. Ela percebeu que havia esquecido de proteger-se, havia esquecido de si. Ela se percebeu. Finalmente, aquele rosnado rouco, aquele movimento vindo do seu útero, aquela clareza de pensamentos eram as provas de que existia e de que era mulher, vingativa por natureza. Naquele momento, ela soube que esse seria o dia em que conquistaria a sua alforria. Só não sabia ainda do tamanho da força negra que nasce do amor, quando esse se vira do avesso.

4 comentários:

  1. Querida, por isso mesmo é que tememos as mulheres mansas, polidas, submissas. Amo.

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  2. A repressão é parte da nossa educação, mas ela não anula a força interna de ninguém. Apenas abafa, baby. Amo.

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  3. Lembrou-me mais uma vez virgínia Woolf, As horas. Mulheres reprimidas.

    Adorei a "força que vem útero", tenho isso demais!

    Beijos

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  4. No caso de Virgínia Woolf, pelo texto e pela forma do seu suicídio, acho que era utero demais! Nossa Senhora, já imaginou que força e que perturbação!

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